quinta-feira, maio 04, 2006

Os labirintos de uma torcida

A cena começa no ônibus, é quarta feira e já vão para as 20, a cidade está agitada, é quase comum ver de entre três pessoas, duas vestidas de preto e branco, há uma expectativa, no ônibus 4501 a agitação começa a tomar conta, aqui a desordem vira ordem, as barreiras são para serem quebradas, há quem entra por trás, o clima é de carnaval e ai de quem não cooperar, cooperar? Em um dos pontos a polícia se recusa, xinga, bate, mais só fica por isso porque esse grupo não se deixa abalar, quando muito desce e na certa apanha outro, nada de pensar em desistir.
No 4501 para quem ficou a ordem é cooperar, nada de silencio, o teto, as chaparias laterais servem de baterias para os hinos e cantos entoados, as letras bem conhecidas cedem espaço a palavrões, o ônibus vai seguindo e a cada vez que vai se aproximando do final, local do encontro marcado, o clima vai ficando tenso, a aglomeração vai se parecendo mais com um formigueiro em festa, o samba e a cerveja vai apimentando esse clima que se quer de alta tensão. A estimativa é de 45 mil convidados que eram dados como ausentes. Que será que terá acontecido se o resultado parece esperado? Se há no meio disso tudo uma certeza da missão impossível de virar esse resultado? “O final de semana foi fantástico, estes miúdos tem raça e coragem” ouço esse suspiro na fila, ela é enorme e dividida entre estudantes e não estudantes, aqui as relações que se desenvolvem são mecânicas, há uma necessidade de inclusão nesse grupo que cresce a cada momento, ignorar e ou ficar indiferente é uma auto-exclusão que ninguém quer, há uma necessidade de fazer parte desse grupo nem que seja momentaneamente, o interesse é comum, não há espaço para exclusividade, todos são iguais.
Já no palco para o espetáculo, as luzes, o cenário o som, tudo esta ajustado no seu mínimo detalhe. Aqui o conflito é dos visitantes que procuram melhor posição, há espaço para surgir brigas, é permitido um palavrão mesmo que seja para alguém desconhecido. Os protagonistas do espetáculo entram em palco, são dois grupos, visitantes e anfitriões, aqui só interessa receber bem os anfitriões, as regras são reinventadas e a etiqueta esquecida, o visitante deixa de ser bem vindo e passa ser mal visto, o espetáculo inicia, a vibração é enorme, atinge o clímax, no entanto a atuação dos protagonistas não corresponde às expectativas, “é uma atuação esperada, esses tipos são burros e deveriam ser trocados todos”, afirma um telespectador.
Os minutos vão se passando, o esperado vai se concretizando, atinge-se a um estágio em que já não vale a pena alimentar a ilusão, ninguém é mais bem vindo, os anfitriões são vaiados, qualquer esforço é ignorado, o tempo vai se esgotando e os mais realistas vão deixando a arena, a sala, vão saindo como entraram, em fila. Para os que ficam a agonia tomo conta deles, já não são mais aqueles que vieram cantando, o consolo esta em soltar palavrões. Eis o apito final, é meia noite, o consolo fica na cama que está longe, ainda separada do stress de ter que apanhar o ônibus de volta, pagar e ficar em pé “agora só nos resta a série B, eu já esperava isto, temos de aprender com os garotos do Ipatingão” com estas palavras terminava mais uma etapa do labirinto do torcedor de Galo. Gerações separam o primeiro título de 71 a sua queda para a segundona em 05, um clube que tem na sua torcida o seu maior patrimônio.

1 Comments:

At terça-feira, 09 maio, 2006, Anonymous Anônimo said...

Adorei este texto... aliás, os novos textos, Ratmir.
Cada vez melhor, hein!
Parabéns!

 

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